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Caravana

É grande o peso que carrego? Não importa. Se tiver que levar, eu levo Se não conseguir andar, arrasto Se, de repente, cansar, eu paro Mil anos parado, aguardo... Enquanto há fôlego, há pulso Mesmo parado, prostrado Eu continuo! Grande é o peso que carrego... Se tiver terra onde errar, eu erro Se tiver pecado pra pecar, eu peco Se não puder falar, escrevo Se estiver escrito, apago Se não puder escrever, eu penso Mesmo que seja proibido Se tiver que fazer, eu faço! O peso é grande, mas eu o carrego... Carrego porque sou levado Pois algum dia, quem sabe, levanto Levanto porque sou erguido Erguido pela força de mil braços Clamor ao céu leva o suplício Mil gritos urgem atrás dos tímpanos “Continua…” Continua porque a vida não é minha Ela quem nasce, cresce e caminha Caminha porque me é alheia Força que Deus provê e determina Eu, apenas, um acidente na areia Continuo porque é minha sina Uivando, gemendo, pedindo Levado porque a natureza quer e precisa
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Anticorpo

É... Tenho esse defeito Carrego na face a fleuma De andar por aí sem defesa Sinto cólera, culpa, despeito Desânimo, ódio, desespero Mas também sinto vergonha Disto não tenho medo Por vezes perco a fé em mim mesmo Eu sei quem eu sou Mas as vezes me esqueço Das minhas fraquezas, porém Não me eximo nem me isento Nem disto nem d’outras vilezas Essa mesma cara que ri Desaba e lamenta A mesma cara que chora Demonstra esperança A mesma cara que espera Esboça descrença É! Eu tenho esse problema A impecável postura dos mentirosos Não me cai muito bem. Não sustento ... Entre os anfitriões da falsa nobreza Tropeço nas minhas infâmias Minha educação nunca foi a etiqueta Exponho desgosto e desavença Ponderar o discurso, não consigo Me escapa o que penso Berro injúrias, cuspo ofensas Tristeza saber que é sempre inútil Mas é minha natureza Ingiro mentiras pelos poros Mais tristemente, as minhas Contamino, adoeço, não durmo Digiro até expelir por inteiro Este ser estranho, inoportuno Meu mal

O Semideus

Ó Nobre Criatura! Acaso teu imenso orgulho superou teu talento? Por que te misturas entre os reles mortais Perambulando entres os fracos e imperfeitos? Por que te sujeitas aos olhares pequenos? Pois tua lamúria se escuta em alto e bom som Tua aparição se vê em vestes de carne e esqueleto. Por que não estais também pregado na cruz Sacrificando-se pelo próximo em santo sofrimento? Por que não levita e te elevas agora mesmo E finalmente desapareça da vida terrena? Ou simplesmente cala-te e te submeta! Não! Não tens tamanha paixão! E não há nada em ti que inspire ou te enalteça! Teu lugar não é nas alturas te entretendo Nem acima nem abaixo julgando, jogando Raios e trovões em nossas cabeças. Teu lugar é bem aqui na gravidade da matéria Sinta teus pés, tua pele queimando grudados nela! Segure tua angústia e guarde bem tua infâmia Por menos profana ou nojenta que seja Aguarde a morte na fila da ignorância suprema Sue, chore, sangre, sofra, erra e padeça Feito o mai

Pulvi es(et pulverem reverteris)

-Veja! -Me olha, me inveja, me copia! Enquanto a humanidade se enfuna do seu próprio ego Num grotesco festival de abastardamento e autofagia Esquecemos as adversidades com sabores diversos Babando na mesa com a voracidade ensandecida Bobos e extasiados com versatilidade do menu Com tola infantilidade de por na boca o que na mão possui Devoramos a vermelhidão suculenta da carne Tão charmosa, tão gostosa, irresistível, irrecusável! Levados pelos prazeres óbvios, obscenos, imediatos Escravizados pela alternativa efémera, fácil, fugaz Padecemos do hábito irremediável de ser humano Completamente falível, alheio, perdido, vulnerável Certamente, um dia, tudo estará arruinado. Da inevitável decadência, ninguém escapa! No final iremos todos juntos para o inferno Com a boca suja de diamante, ouro e prata Lambuzados, felizes, sorridentes de mãos dadas Lavaremos nossas almas putrefatas Na frieza da fogueira mais ingrata! Aquela que não discrimina, nem vê nada Que assim sej

O Desejo da Puta

A puta observa o dinheiro deixado na penteadeira Ela fixa o olhar com certeza de que está tudo ali Mas com a desconfiança vazia de lhe faltar algo... Ela vê o conserto da goteira do seu quarto fétido Um novo vestido,maquiagem, novos lençóis e cortinas O arroz e o feijão, fralda e leite ninho para o menino Que chora ao pé da cama recém-usada, alheio ao destino “O que será? Eu contei errado?” -pensa ela Tomada por uma mágoa mórbida, ela descobre Está tudo ali: a sobrevivência de um novo dia. Faltava-lhe apenas a vontade de viver um outro dia...

Pequeno Notável, Programa Papo Literário, TV CEARÁ

Olá, Amigos novamente tive um poema recitado pela TV Ceará. Assistam abaixo. Abraço a todos. Pequeno Notável Só existo quando apareço aos seus olhos Breve momento gratificante que me faz Acreditar que sou algo além, algo mais Daquilo que consigo, do que me mostro Daquilo que não basta, que não satisfaz Quando sua atenção se desvia Aquele breve momento se desfaz Aquela forma morta se modifica Para algo além da vida Para algo além do mais...